Parece quase impossível pensar que Fernando Pessoa pudesse ter-se interessado por composições poéticas tão singelas como as quadras ao gosto popular, e ainda assim, sobretudo nos últimos dois anos da sua vida, temos uma grande quantidade deste tipo de produções. O que possa ter levado o nosso Autor a dedicar-se a este género de composição poética permanece e, creio, permanecerá ainda por muito tempo um mistério: estaria Pessoa a modelar mais um heterónimo, desta vez, um pouco mais próximo do seu povo e da sua forma de expressão popular ou, pelo contrário, estaria ele a pôr em causa a função literária do modernismo até aí defendida? Com esta proposta de comunicação não pretendo fixar as causas que possam ter impelido Pessoa a escrever quadras, mas analisar as poucas quadras em que o tema principal é um sujeito feminino nomeado, isto é, as que são dedicadas a nomes próprios de mulheres, de onde emerge a capacidade altamente jocosa – sem contudo deixar de reenviar para a metafísica do seu Autor – de fazer interagir qualidades e modos de expressão populares com a soturnidade que caracteriza o pensamento poético pessoano.

Pessoa(s) por trás das quadras

Maria da Graça Gomes de Pina
2016

Abstract

Parece quase impossível pensar que Fernando Pessoa pudesse ter-se interessado por composições poéticas tão singelas como as quadras ao gosto popular, e ainda assim, sobretudo nos últimos dois anos da sua vida, temos uma grande quantidade deste tipo de produções. O que possa ter levado o nosso Autor a dedicar-se a este género de composição poética permanece e, creio, permanecerá ainda por muito tempo um mistério: estaria Pessoa a modelar mais um heterónimo, desta vez, um pouco mais próximo do seu povo e da sua forma de expressão popular ou, pelo contrário, estaria ele a pôr em causa a função literária do modernismo até aí defendida? Com esta proposta de comunicação não pretendo fixar as causas que possam ter impelido Pessoa a escrever quadras, mas analisar as poucas quadras em que o tema principal é um sujeito feminino nomeado, isto é, as que são dedicadas a nomes próprios de mulheres, de onde emerge a capacidade altamente jocosa – sem contudo deixar de reenviar para a metafísica do seu Autor – de fazer interagir qualidades e modos de expressão populares com a soturnidade que caracteriza o pensamento poético pessoano.
2016
100 Orpheu
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